Até seus 39 anos, completados em junho, Domitila Barros nunca havia tingido os cabelos. Procedimentos estéticos também estavam longe de suas prioridades. Até que, com o boom de exposição e a mudanças em seu estilo de vida após o BBB 23, se viu alvo de críticas e cobranças nas redes sociais. Em agosto, uma pergunta se ela estaria grávida se tornou constante e, com isso, um impacto em sua autoestima.
“Acredito que se fosse há 20 ou 10 anos eu teria sofrido mais. Mas dizer que o coração e alma não absorvem seria mentira”, admite ela à Vogue. Decidiu, então, se render a mudanças em sua imagem. “Eu acredito que para mim seja sobre envelhecer bem e se redescobrir”, diz.
Em bate-papo com a Vogue Brasil, a modelo, ativista social e atriz fala sobre autoestima, a preparação para a chegada os 40 anos e o sonho de se firmar cada vez mais como greenfluencer – pessoa que atua com o foco em sustentabilidade. Ela conta ainda que está preparando seu primeiro livro e um documentário com lançamento previsto para o ano que vem.
VOGUE Como está sua relação com sua imagem, sua autoestima?
DOMITILA BARROS Eu vivi 39 anos muito bem vividos, sempre fui muito do autocuidado e o amor próprio, de experimentar novas coisas e me descobrir nas diferentes fases da vida. Este ano, pela primeira vez na vida, pintei o cabelo e fiz a minha primeira cirurgia estética. Estou me reinventando e aprendendo a me amar nessa nova fase da vida. Eu aprendi que a minha relação com minha imagem e autoestima é influenciada por diversos fatores. Experiências passadas, vivências anteriores, elogios ou críticas, podem afetar a autoestima e a imagem corporal. E percebi que a capacidade de aceitar as próprias imperfeições e trabalhar no desenvolvimento pessoal é crucial. Mas não seria sincera se não mencionar a influência da mídia. Pode, sim, moldar a autoestima de uma pessoa, afetando a percepção da imagem. A relação entre esses fatores pode variar amplamente de pessoa para pessoa, e é importante reconhecer que a autoestima e a imagem corporal podem ser trabalhadas e melhoradas com autoaceitação e apoio social.
Vogue Como foi ao longo da vida sua relação com o espelho e com o que pensa sobre você?
DB Eu me amo e sempre estive bem com meus defeitos e qualidades tentando não me pressionar muito em busca da perfeição. No ano passado me tornei a primeira miss Alemanha negra e migrante em 100 anos de história aos meus 38 anos e sempre com uma mentalidade e estilo de vida saudável, orgânico e natural. Com o passar dos anos fui trabalhando mais, treinando menos e testando o que me faz bem e como gosto de me cuidar. Sempre gostei de mim mesma do jeitinho que sou, mas a exposição midiática e a pressão social de envelhecer plena aguçaram minha curiosidade para minha primeira coloração capilar indo para um tom mais escuro, a minha primeira transformação visual nos cachos e minha primeira cirurgia estética. Eu acredito que para mim seja sobre envelhecer bem e se redescobrir. É sobre o processo de envelhecimento de forma saudável e ativa, mantendo uma boa qualidade de vida, usando a tecnologia a meu favor. Ano que vem eu faço 40 anos e estou numa vibe de aprender e experimentar sobre os benefícios que promovem o envelhecimento saudável e positivo. Isso pode incluir práticas, tecnologias, produtos ou políticas que apoiam a qualidade de vida à medida que envelhecemos.
Vogue Você recebeu vários comentários recentemente questionando se você estava grávida. Como lidou com isso?
DB Eu acredito que com a idade vem a experiência e com ela a relatividade. O tão famoso apertar o foda-se. Se fosse há 20 ou 10 anos eu teria sofrido mais. Mas dizer que o coração e alma não absorvem seria mentira.
Vogue Comentários nas redes sociais causam impacto em sua saúde mental? Como faz para se cuidar?
DB Sim, definitivamente causam. Eu faço terapia desde o meu burnout. Devido a minha vida agitada e agenda de viagens eu faço on-line para garantir e começar o dia na good vibes. É sobre prioridades e saúde. Os comentários nas redes sociais podem impactar significativamente a saúde mental das pessoas. Comentários negativos, críticas, bullying online e assédio podem causar estresse, ansiedade, depressão e afetar negativamente o bem-estar emocional. Vemos jovens, crianças e adultos que chegam até a cometer suicídio devido à pressão e ao bullying nas mídias sociais. É importante que as pessoas estejam cientes dos efeitos que os comentários nas redes sociais podem ter e tomem medidas para manter um ambiente on-line saudável e positivo, além de buscar apoio quando necessário.
Vogue Você fez recentemente uma cirurgia de lipoaspiração na barriga. Por que decidiu fazer?
DB Eu tinha engordado 10 quilos e não conseguia diminuir mesmo com alimentação saudável e minhas rotinas de yoga e exercícios. Meus pais e meu irmão são diabéticos e têm grande dificuldades de perda de peso. Eu vi na lipo uma possibilidade de preventivamente ir contra a tradição familiar. Além disso eu estava me sentindo mal com meu corpo devido à exposição e à intensidade que esse ano tem sido. Estava me custando mais do que o necessário estar bem nos momentos de lazer de biquíni ou acompanhando as tendências que fazem parte da minha vida profissional.
Vogue Qual mensagem gostaria de deixar às mulheres?
DB Você é incrível exatamente como é, com qualidades únicas que te fazem especial. Lembre-se de cuidar de si mesmo, tanto fisicamente como emocionalmente. Seu amor próprio é uma fonte poderosa de felicidade, então valorize-se e cuide de si com carinho. Não se esqueça de que você merece todas as coisas boas que a vida tem a oferecer. Acredite em você mesma, pois você é capaz de conquistar seus sonhos.
Vogue Quais seus próximos passos profissionais?
DB A “Domi global tour” que dei início depois de receber o prêmio de influenciadora do ano na categoria sustentabilidade durante o Festival de Cinema de Cannes em maio deste ano. Depois de participar de projetos como GREENfluencer nas Maldivas, onde planto corais há 2 anos, e em Fernando de Noronha para gravar o documentário sobre biodiversidade marinha e os golfinhos. Agora chegou a vez da Alemanha e a Ásia. Serei a embaixadora do fórum de moda justa e sustentável de Ruhr e farei uma palestra sobre descolonização da moda. Este ano, estamos discutindo racismo e estruturas coloniais na moda, vestuário e identidades culturais, condições de trabalho exploradoras e alternativas justas na produção global de moda. O que faz com que essa atuação como embaixadora e palestrante seja ainda mais especial e representativa para mim. Poder voltar à Alemanha para atuação nessa temática e nessas dimensões é muito gratificante e energizante.
Ainda em novembro irei lançar mais uma coleção de joias veganas feitas por artesãs do Tocantins a base de capim dourado pela minha marca de empreendedorismo social. Dois projetos para o ano vêm que eu ainda não posso dar muito spoiler, mas são definitivamente meu grande orgulho: meu primeiro livro e meu primeiro documentário.
Vogue Quais seus sonhos/metas daqui em diante profissional e pessoalmente?
DB Pessoalmente, eu quero administrar melhor o meu tempo entre trabalho, família e amor e definitivamente passar mais tempo com o mozão porque esse ano até agora só passamos três semanas juntos. Então, para 2024, espero poder conciliar melhor as prioridades. E também quero conhecer a África e descobrir ainda mais das mil maravilhas do Brasil. Quero viajar muito para lugares que não conheço e fazer muitas coisas pela primeira vez. Profissionalmente, eu quero muito que o meu documentário saia com a energia e pessoas que estou construindo esse processo pré-produção com tanto amor e raça. Eu quero muito que meu livro inspire e impacte a vida de muita gente. Eu quero me firmar no Brasil como GREENfluencer e poder traduzir valores em forma de conteúdo genuíno e autêntico. Eu acabei de fechar meu primeiro contrato como embaixadora anual de uma marca 100% brasileira de skin care vegana e uma de produtos de beleza. Agora só falta o contrato de embaixadora das “caxheadaxxxxxx” pra eu me sentir 100% no profissional. A meta para 2024: leveza, diversão e genuinidade para a vida pessoal e a profissional.
Vogue Qual foi a inspiração para o ensaio desta entrevista?
DB Propostas de cabelo que sempre quis ver nas revistas e sonhava em fazer, como as tranças numa posada bem afro global, apresentando a Trança Africana como Patrimônio Histórico da Humanidade. Durante o mestrado na Alemanha escrevi minha tese sobre o cabelo como linguagem e o corpo como veículo de comunicação. Com a minha música “As cacheadas”, eu pude trabalhar essa temática de forma menos científica e mais criativa. Para mim essa é uma possibilidade enorme criativa e inovadora de fair fashion e, como em dezembro estarei na Alemanha dando o meu nome para o fórum de moda com tema descolonização da moda, amei essa inspiração linda, sustentável e super na moda. É sobre novas perspectivas e tendências com muito amor e responsabilidade.
Fonte: Vogue